Independentemente de vir a existir uma segunda vaga da pandemia do coronavírus, a recessão é uma certeza. A força do choque começou com as medidas de contenção social, mas prolonga-se no tempo pela incerteza relativamente ao futuro. A confiança das pessoas e as suas expectativas relativamente ao desenvolvimento do vírus são o principal contribuidor para o prolongamento do atual ciclo recessivo. É possível observar que os países (por exemplo: Estados Unidos e Suécia) onde a crise sanitária foi mais difícil e o vírus mais se espalhou, foram precisamente aqueles em que a economia mais retraiu. Por isso, uma segunda vaga irá sempre tornar a recessão mais profunda independentemente de se voltar a ter um aumento das medidas de confinamento.

O possível impacto na economia nacional

A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) refere que a economia portuguesa pode cair 11,3% em 2020 e o desemprego aumentar para 13%, se houver uma segunda onda de contágios, antecipando uma retoma lenta da economia e a possibilidade de serem necessárias medidas de apoio adicionais. Esta previsão é consideravelmente pior se existisse apenas uma vaga onde a instituição aponta para uma recessão de 9,4% este ano e um desemprego de 11%. Apesar ambas as previsões serem as mais pessimistas entre as principais organizações internacionais bem como do governo português, a diferenças entre as duas é considerável.

Esta mais lenta recuperação é multifatorial onde também é relevante possíveis segundas vagas noutros países. O aumento significativo de casos em Espanha – um dos principais parceiros comerciais portugueses - é visto como uma situação crítica e até descontrolada na Europa, mas não é o único país no mundo que poderá estar a entrar numa segunda onda de infeções. Também a rapidez da epidemia no continente africano tem sido significativa e tem por isso também preocupado a Organização Mundial de Saúde (OMS). “Estou muito preocupado com o facto de começarmos a assistir a uma aceleração da doença em África, e todos devemos levar isto muito a sério e mostrar solidariedade" com os países afetados, disse esta semana Michael Ryan, diretor de Emergências de Saúde da OMS.

Com uma detioração da condição destas economias, o impacto direto nas exportações nacionais seria prolongado e certamente afetado por possíveis segundas vagas. Depois, a procura interna sofreria também com isso através da maior incerteza, aumento de falências e desemprego duradouro. Para além disso, no caso limite de uma nova necessidade de confinamento poderão ser necessárias medidas fiscais adicionais onde o prolongamento do lay-off permitiria dar maior suporte ao rendimento familiar como possivelmente substituir outras existentes.

A nível orçamental também existiriam alterações. A OCDE estima agora que Portugal tenha um défice de 9,5% em 2020 e de 7,4% em 2021 no cenário de uma segunda vaga de contágios e necessidade de novo confinamento. Na ausência de nova vaga da doença, o défice seria de 7,9% este ano e de 4,7% em 2021. Como consequência disso e da quebra do produto, a dívida pública sofre também um aumento de cerca de 15%.

Basicamente tudo se torna pior caso uma segunda vaga realmente aconteça. Infelizmente, não basta tentar evitar uma segunda vaga em território nacional, sendo claro que o alastrar do número de casos noutros países terá um claro impacto a nível nacional.

Frederico Aragão Morais, Market Analyst Teletrade Portugal
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