Brasil fica em 52º lugar em ranking internacional de leitura
As habilidades de leitura de crianças brasileiras estão entre as piores do mundo, segundo a pesquisa Pirls (sigla do inglês para Estudo Internacional de Progresso em Leitura). O estudo foi desenvolvido pela IEA (International Association for the Evaluation of Educational Achievement), que conduziu análises com crianças do 4º ano do ensino fundamental em 57 países. Eis a íntegra (PDF – 543 KB).
O levantamento foi divulgado nesta 3ª feira (17.mai.2023). Os resultados brasileiros deixaram a desejar, e o país ficou na 52ª posição, à frente, apenas, de países como Irã, Egito e Jordânia. A média estabelecida pela pesquisa como referência é de 500 pontos. O Brasil obteve 419.
No topo da lista, aparecem Cingapura (587), Irlanda (577) e Hong Kong (573). Acima do Brasil, também constam países como Cazaquistão (504), Uzbequistão (437) e Kosovo (421).
Como o levantamento é limitado a 57 países, não é possível comparar o Brasil com alguns de seus países próximos, como Brasil, Uruguai e Paraguai.
Leia o ranking abaixo com alguns países selecionados –mais abaixo é possível ler uma tabela com a lista completa:
Esta é a 1ª vez que o Brasil foi incluído no estudo, que ocorre desde 2001. O país contribuiu com a participação de 4.941 estudantes do 4º ano do ensino fundamental de 187 escolas públicas e privadas.
Para Gabriel Corrêa, diretor de políticas públicas da ONG Todos pela Educação, esse envolvimento é fundamental para a melhoria da educação no país.
“É essencial poder olhar para outros países e aprender com suas experiências. E os resultados da PIRLS mostram que o Brasil ainda está muito atrás quando o assunto é educação e alfabetização”, diz o especialista.
Segundo Corrêa, é preciso lembrar que a pesquisa foi realizada durante a pandemia e que os resultados no Brasil foram, inevitavelmente, afetados pela crise sanitária mundial. No entanto, ele acredita ser preciso pensar nas mudanças possíveis para uma evolução no ensino fundamental brasileiro.
“Uma pauta importante para se avançar é como os governos estaduais e federal podem ajudar os municípios na gestão escolar. Não é só dar dinheiro. É preciso desenvolver o chamado ‘regime de colaboração’, com apoio para a contratação de professores, escolha da diretoria, compra de material didático e aplicação de avaliações melhores”.
OUTROS INDICADORES
Além da classificação geral, o PIRLS embasa seus resultados em outros indicadores complementares à educação formal nas escolas. Entre eles, está o “nível socioeconômico”, com avaliação de renda e “recursos para aprendizagem em casa”, que inclui a disponibilidade de livros nas residências.
Este último comprova que os sistemas educacionais com melhores resultados são aqueles que combinam alta qualidade escolar e equidade na população, como Finlândia. No Brasil, os indicadores mostram outra realidade e se destacam pela falta de infraestrutura educacional dentro da casa dos estudantes.
Em relação ao nível socioeconômico dos entrevistados, na esfera internacional, a maior parte entrou para as categorias de níveis alto e médio. Apenas 22% condizia ao nível baixo. Já para os alunos brasileiros, a tendência se inverte – 5% dos estudantes entrevistados têm nível alto enquanto 64% correspondem ao pior índice.
Leia abaixo o ranking completo:
A METODOLOGIA
Criado com o objetivo de analisar tendências de compreensão de leitura e compilar informações sobre os contextos de aprendizagem em diversos países, o PIRLS possui, atualmente, abrangência continental, com 57 países participantes na última edição. Os dados divulgados neste ano são referentes à pesquisa que começou em 2021 e terminou apenas no ano seguinte.
O atraso no cronograma se deu pela dificuldade de aplicação de testes e entrevistas em meio às restrições impostas pela pandemia de covid-19.
A pesquisa abarca alunos que estão cursando o final do 4º ano do ensino fundamental de escolas públicas e privadas. Excepcionalmente nesta edição, o levantamento também ouviu estudantes que já estavam há alguns meses cursando o 5º ano, igualmente por conta dos atrasos relativos à pandemia.
Para a avaliação de desempenho, os estudantes são submetidos a testes de leitura e compreensão de texto, uma vez que é nessa etapa da escolarização que se vivencia a transição entre o “aprender a ler” e o uso da leitura para apreender e contextualizar informações, além de praticar as normas da língua.
Esta foi a 1ª vez em que a pesquisa inclui testes digitais, e cerca de metade dos países entrevistados optaram pelo formato online em detrimento do tradicional. Em ambas as modalidades, o aluno é submetido à leitura de textos de diferentes níveis de dificuldade e questões abertas. Para Corrêa, este tipo de avaliação é superior ao método utilizados no Brasil, com questões de múltipla escolha, pois permite analisar “habilidades mais complexas” dos alunos.
Quanto aos resultados, o estudo se baseia em 4 “benchmarks”, ou “pontos de referência“: “baixo” (400 pontos), “intermediário” (475). “alto”(550) e “avançado” (625). Um aluno que se classifica como “baixo”, por exemplo, consegue ler textos mais simples e diretos, enquanto os avançados têm capacidade de ler e compreender textos mais longos e complexos. Nesta edição, nenhum dos países participantes atingiu o nível avançado.